segunda-feira, 24 de março de 2008

oh perfeição

Perfeccionismo é uma das minhas heranças genéticas. Ele me fazia arrancar folhas e mais folhas de cadernos, sejam eles espirais ou não (o que dava um trabalho!), quando eu chegava em casa. Tudo para deixar bonito.
Meus cadernos de escola de 150 folhas, chegaram no final do ano com 50 no máximo. Minha mania de perfeição fez minha mãe pagar caro, e mais caro ainda pagou a natureza. Até hoje sinto muito mal por ter sido responsável pelas árvores que derrubei...

Comecei com essa história cedo, desde a 3ª série quando começamos a escrever tudo à caneta. Dois anos mais tarde, depois de ouvir muita reclamação da minha mãe ela me contou um fato curioso.

Quando ela era pequena, algo parecido aconteceu com ela. Filha de uma sra. austríaca-rígida, conhecida por mim como Vovó com um sr. italiano-doce, este o Vovô nasceu quando o casal tinha 54 anos de idade. A sra. austríaca que chegou ao Brasil quando tinha seus 20 anos e mesmo tendo vivido aqui por mais de sesi décadas, nunca aprendeu português direito. Na hora de falar ela trocava os artigos e falava: "O" meninA ou "A" meninO. Então, imagina como ela era no português escrito...

Quando a filhinha dela, minha querida mamãe, tinha apenas sete anos começou o primário. E minha avó, sendo uma mãe preocupada, cuidava para que as sainhas e camistas estivessem sempre limpinhas. Os sapatinhos de verniz sempre lustradinhos. Mas sobre o conteúdo dos livros ela não entendia. Mesmo sendo uma sra. muito bem educada, com uma caligrafica gótica de dar inveja, como já visto o português nunca foi o seu forte. Então a única coisa que era podia interferir nesse aspecto era na beleza. Na perfeição da caligrafia da minha mãe. E nisso ela, vovó, era implacável e irredutível. Se as letras miúdas da minha mãe não estivessem lindas, era folha fora do caderno. Ela arrancava tudo mesmo, fosse matéria atual, ou conteúdo de outras aulas. E não importava se tivesse visto da professora, e coitada da minha mãezinha que tinha que pedir para a professora dar um novo visto, porque a outra lição tinha ido para o lixo.

É, algumas coisas na casa da Vovó eram pesadas. Às vezes o chicote estalava e ai de quem não obedecesse. Se a ela (jeito pela qual ela ainda é chamada por todos da família) ainda estivesse viva, faria este ano, dia 10 de março, 106 anos. Mesmo hoje as pessoas vivendo muito, algo assim é bastante improvável, né? Ela se foi quando eu tinha apenas 5 anos.

Mesmo essa coisa toda sendo algo horrível de se fazer com uma criança foi uma boa história para mim. Porque, como gosto de ver o lado bom das coisas, me fez enxergar que mesmo alguém querido não estando conosco a vida inteira, você ainda leva algo dela com você, até que inconscientemente.
E no fim, mesmo brava, cabeça-dura, nervosinha... ela era um amorzinho!
Continuo com mania de fazer rascunho e passar a limpo... mas hoje eu reciclo e muito!

não tenho uma foto dela para colocar aqui, mas em breve deverei mudar isso!

2 comentários:

Anônimo disse...

Vovó era harcore, fogo na canjica!!!

Anônimo disse...

P.S: Sim,eu sei,esqueci o D no Hardcore, e as chaves estõ emcima da mesa.